quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O sonho

Manel com 16 anos já tem bolhas no pé, trabalha de dia e noite sem largar o boné. Toma xarope de coragem às colheradas e passa os dias refém do destino, sentindo cada dia como o primeiro. Ambiciona ser vagabundo, e vive esquecido do futuro. Embebeda-se em leite, para matar a sede do esquecimento. Os amigos cedem-lhe o leito, mas ele prefere andar sozinho, escutando o silêncio, enquanto dá uma volta ao cansaço, ganhando alento para as incertezas. Teme a madrugada e adormece cansado, que nem o barulho dos lobos o acordam. Acorda para o que não lhe apetece e não leva isso a mal. Acha que é obra do divino, e ataca de frente o encanto da juventude, não esquecendo a cobiça de uma vida. Anda com homens safados, mora com homens de luta e disputa com o coração a certeza da solidão.
Não quis assistir ao desfecho da sua história, e correu atrás de um sonho que andava à solta. Disseram-lhe um dia que a vida era dura, ele não acreditou e arregaçou as mangas. Andou em ruas desertas, disse adeus às gentes e pulou atrás da aventura. Correu de braços abertos para aqueles que o aceitam. E foi assim que viu o mundo andar para a frente.