domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ventos ciganos

Fevereiro está firme e passou-me ao lado. Ontem apeteceu-me escrever uma carta a Maria. Hoje nada me apetece. Apetecia-me talvez acabar com o E de vez, mas já comi uns torresmos para aquecer e para mim até estavam saborosos. E para ti, Maria?
Esta casa é fria, e só na cozinha se está bem. Ontem pus a lenha errada no forno e não parei de rezar durante toda a noite. Nesta zona os ventos sopram forte e os muros são velhos e as árvores, ai coitadas das árvores... Também elas não têm a força de outras épocas. Não sei como a menina cigana aguenta fazer cestos com as mãos descobertas e com um frio destes. Sem abrigo sem fogo, só com o vime na mão. Eu bem disse que tenho que acabar com os E´s. Há uns anos dei-lhe um chocolate. Hoje dei-lhe um Adeus. Está crescida a garota, já é quase senhora. Não, talvez da próxima vez em que voltar a parar por estas bandas seja senhora. Agora, acho que ainda não o é.Ou será? E o vento sopra, continua a soprar. Qualquer dia vou atrás dela, empurrado por ele, só para ver como resistem as pessoas ao frio. Mas para onde irá ela? Será que vai na direcção do vento. Amanhã vou apanhar umas cavacas e pinhas para lhes acender a lareira. Nestes dias os paus ardem como palha e o calor quase não se sente. Hoje os animais precisam de calor. E quem não precisa dos animais?