domingo, 13 de setembro de 2009

O Inferno do Pirilampo

Era tarde, o sol já raiava, os meninos dormiam descansados nas suas camas. Manuela, abriu a persiana e puxou os lençóis até aos pés dos garotos, enquanto José preparava a cesta com a comida. Rissóis, empadas, filetes, latas de atum, trinaranjos de litro e meio e uma garrafa de vinho, era tudo o que precisavam para ter uma tarde feliz em família. Enquanto estudava a melhor maneira de colocar a comida no cesto, ia olhando para a cafeteira que tinha ao lume, e passava o termo por água para tirar as impurezas que restavam do verão anterior. Os rapazes estavam prontos, o cesto também, comeram alguma coisa antes de arrancar enquanto a mãe passava água pelo vidro do carro e verificava se tinha o mapa no tablier. Como combinado às 10 horas abandonavam a sua casa para passar um dia em família no campo. A meio da viagem o filho mais novo, Francisco, começa a olhar desconfiado para o pirilampo que estava colado na parte da frente do carro, entre a mãe e o pai. Paulo, que levava um caderno por cima do joelho e, com um lápis de cor laranja desenhava algo, apercebera-se do olhar atento e assustado do irmão. Durante algum tempo não disse nada, enquanto tentava compreender o que havia despertado o olhar do irmão, que lentamente modificava a expressão da sua face. Os pais seguiam viagem calmamente, um a guiava enquanto ouvia "quarteto pelo fim do tempo ", de Olivier Messian e, Manuela pintava as suas unhas de amarelo silvestre. Por esta altura o pirilampo já se tinha transformado em palhaço na cabeça de seu filho, que de repente gritou para o pai parar o carro pois estava a ver um palhaço que se ria para ele e que lhe apontava uma pistola à cabeça. O pai não lhe deu ouvidos e a mãe pensou que era mais umas das suas brincadeiras e mais uma das histórias que ele normalmente imaginava. Só o irmão mais velho percebeu que o irmão, que tinha uma imaginação poderosa, e em que normalmente as histórias eram divertidas, de reis e rainhas e os finais eram sempre felizes, causando assim alguma estranheza , mas que mesmo assim, não conseguiu evitar que o Pai continuasse a conduzir, e ele a desenhar.
O palhaço continua com as ameaças e diz-lhe que para que este desaparecesse e não o chateasse mais, tinha que saltar para o banco do Pai e virar o volante. Assim foi, nesse instante, Francisco atirasse ao volante e vira a direcção do carro, o Pai ainda tentou evitar, mas nesse momento já iam em direcção a uma ravina. O carro desceu descontroladamente a toda a velocidade, enquanto lavrava a vegetação, sendo apenas parado por uma pedra gigante. Passado uns instantes o carro incendiou-se e Francisco deixou de ver o palhaço.
Passado uns meses um pastor passava no local do acidente, onde já não restavam vestígios do acidente, tendo reparado num pequeno boneco que numa das pontas tinha uma luz que o encadeava. Ao aproximar-se viu um pirilampo, debruçou-se para o apanhar e reparou numa fita que dizia," bem vindo ao meu mundo".